Descrição
Aquilo que se denomina Teoria Queer surge nos Estados Unidos em meados dos anos 80 e se consolidou como um campo de estudos interdisciplinar e de grande relevância teórica e política. Inicialmente, a teoria queer surge de intersecções entre o feminismo, o pós-estruturalismo e os estudos LGBT; quarenta anos após os primeiros trabalhos de Gayle Rubin, Eve Sedgwick, Judith Butler, entre outros, os estudos queer se desdobram em novos campos de reflexão e análise. O objetivo do presente curso é oferecer uma introdução aos desdobramentos do pensamento queer em vertentes ainda não tão estudadas no Brasil, como os estudos queer de tecnologia, as ecologias queer e a negatividade queer. Seriam o gênero e a sexualidade um dado da natureza ou uma tecnologia do poder sobre os corpos e subjetividades? Em que medida a teoria queer nos permite pensar a relação moderna do humano com a natureza e a atual crise climática em que vivemos? E, ainda, em que medida os estudos queer devem ser pautados por uma procura de assimilação à sociedade vigente e não pela radical negação do mundo como o encontramos hoje? A partir do trabalho de Paul Preciado, Donna Haraway, Karen Barad, Lee Edelman, Jack Halberstam, entre outros, vamos analisar estas questões. Não é necessário nenhum conhecimento prévio sobre o tema.
Aulas
Aula 1: Introdução: o que é teoria queer?
Na nossa primeira aula, introduziremos a teoria queer a partir das suas principais características e do seu contexto histórico, mostrando como o campo surge a partir da intersecção entre feminismo, pós-estruturalismo e estudos da homossexualidade. Vamos ver como os estudos queer surgem contra a reificação identitária do movimento LGBTQI+, procurando resgatar uma potência de des(identificação) característica do turbilhão cultural dos anos 60.
Aula 2: Gênero, corpo, tecnologia: Preciado e Haraway.
Na nossa segunda aula, iremos trabalhar o desdobramento da teoria queer em relação à reflexão sobre a tecnologia. Em que medida o gênero pode ser entendido como uma tecnologia? Em que medida esta indagação nos permite entender a suposta distinção entre homem e máquina, artificial e natural? A partir do trabalho de Preciado e Haraway, vamos estudar estas questões.
Aula 3: A natureza em questão: ecologias queer.
Dando continuidade ao que vimos na segunda aula, vamos estudar o campo das ecologias queer. O termo incialmente cunhado por Catriona Sandilands objetiva nomear uma série de indagações sobre a relação do binômio moderno natureza/cultura com questões de gênero e sexualidade. As ecologias queer, a partir de uma ampla gama de autores, identifica na natureza algo para além de qualquer binarismo, uma indeterminação generalizada e propriamente queer que teria sido deliberadamente apagada pelo esforço moderno de traçar o mundo a partir de categorias binárias.
Aula 4: A negatividade queer: estudos queer e o fim do futuro.
Na nossa última aula, por fim, vamos analisar aquilo que se convencionou chamar de negatividade/niilismo queer. Esta linha de reflexão, pouco trabalhada no Brasil, contesta o horizonte assimalacionista do movimento LGBTQI+, procurando pensar em que medida o queer, antes de se voltar a sua aceitação na sociedade instituída, não carregaria em si mesmo a potência de erradicação do mundo tal como ele se apresenta. A partir do trabalho de Lee Edelman e J. Halberstam, veremos como a negatividade queer nos ajuda a pensar o momento contemporâneo, marcado, em razão da mudança climática e do esgotamento de recursos naturais, pela impossibilidade de reproduzir o mundo de hoje no mundo por vir.
Ministrante
Ádamo da Veiga é mestre e doutor em Filosofia pela PUC-Rio, com estágio de pós-doutorado nessa mesma instituição. Possui graduação em Relações Internacionais (UFF) e em Filosofia (UERJ). Atualmente, faz Pós-Doutorado na Faculdade de Educação da UFRJ, onde desenvolve pesquisa sobre Teoria Queer e Antropoceno.
Bolsas
Temos bolsas para alunos cotistas e pessoas trans. Para solicitar uma bolsa, enviar e-mail para estudosdopresente@gmail.com falando, brevemente, sobre o seu interesse no curso e pertencimento aos grupos mencionados.