Ceticismo e Desejo de Neutro em Roland Barthes

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Segundo Tiphaine Samoyault, biógrafa de Barthes, o Neutro diz respeito, a um só tempo, “ao ser profundo de Barthes e a um modo de atravessar a linguagem”. A frase é perfeita, pois o neutro é sem dúvida o que melhor define um caráter marcado pela delicadeza e pela hospitalidade, mas também pelo cansaço e pela recusa ao espalhafato, um “ser” que só conseguia realmente odiar, conforme disse Foucault, “a estúpida violência das coisas”. É perfeita, também, ao articular o Neutro à reflexão barthesiana sobre a linguagem. A obra de Barthes é marcada pela coerência de um projeto filosófico que teve sempre a linguagem como objeto privilegiado de reflexão. Barthes surpreendeu seus ouvintes ao qualificar a língua de fascista em sua aula inaugural no Collège de France, mas seria preciso lembrar que ele esteve às voltas, desde o começo, com um único e mesmo problema: a força da língua, seu caráter inelutavelmente assertivo, a violência cotidiana e banal das palavras. Após enquadrar e classificar o real, a linguagem adquire uma perigosa consistência, confundindo-se com o mundo que ela ordena ─ em outras palavras, ela transforma o que é histórico em um fato natural. No fundo, seria preciso escapar do simbólico de uma vez, não fosse a constatação, nessa mesma aula inaugural, de que a linguagem humana é sem fora. Se o Neutro percorreu toda a obra de Barthes, é porque ele buscou sem cessar um modo de manter-se na linguagem (afinal, o que mais nos restaria?) e ao mesmo tempo escapar de seu caráter assertivo. Por esse motivo, o Neutro é, antes de tudo, uma utopia. Mas, se ele não existe (ou se não é possível), ainda assim podemos identificar eventualmente em nós um Desejo de Neutro: desejo de que os conflitos cessem, que as perseguições terminem, que as injunções sejam suspensas, em suma, que a violência dê lugar à outra coisa. 

Nosso curso visa trabalhar o conceito barthesiano de Neutro apontando para sua íntima relação com o ceticismo, que pode ser notado tanto na suspensão do juízo (epokhé) que ele enseja, quanto na atenção conferida à predicação. Abordaremos também a influência das reflexões sobre o Oriente na obra de Barthes, que encontrou algo do Neutro no Zen, no taoismo, nos haikus. Por fim, será também ocasião para discutirmos o polêmico tema da neutralidade, posição suscetível de gerar ódio em todo o espectro político. Ao pensarmos o Neutro a partir do ceticismo, buscaremos qualificá-lo de modo que ele possa, com sorte, ter algum lugar em nossa esfera pública.

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Descrição

Curso encerrado.

Aulas

Aula 01: O fascismo da língua

Aula 02: O problema do sentido

Aula 03: O Oriente de Barthes

Aula 04: Ética e política do Neutro

Ministrante

Victor Garcia possui graduação em Psicologia pela UERJ (2015); mestrado em Psicanálise e Saúde Mental também pela UERJ (2018) e mestrado em Filosofia pela PUC-Rio (2019). É doutorando em Filosofia pela PUC-Rio na linha de Ética e Filosofia Política.  Dedica-se ao estudo do pensamento francês moderno e contemporâneo.

Bolsas

Temos bolsas para alunos cotistas e pessoas trans. Para solicitar uma bolsa, enviar e-mail para estudosdopresente@gmail.com falando, brevemente, sobre o seu interesse no curso e pertencimento aos grupos mencionados.