Simondon e a Cosmotécnica das Máquinas

Descrição

O discurso cosmotécnico surge como necessidade em se buscar alternativas à cultura do monoprogresso de consumo alienado de tecnologias. Obsolescência programada, extrativismo mineral, automatismo desenfreado e robôs inteligentes são apenas alguns dos expoentes da grande crise que trata as máquinas como seres desprovidos de verdadeiro significado social, sendo relegada sua existência à mera utilidade funcional. Dedicando-se a uma educação da sensibilidade, Simondon orientava seus alunos do ensino médio na montagem e desmontagem de objetos técnicos, como radares, telefones e televisores, a fim de que aprendessem a identificar elementos, indivíduos e conjuntos técnicos, preparando-os para viverem intuitivamente em meio às máquinas, em comunicação com elas, não dominando-as como escravos. O presente curso tem, então, interesse em debater a diferença entre a construção do discurso cosmotécnico, que assume a diversidade cultural como lugar de partida para a invenção de novos modelos de progresso técnico, muitas vezes ignorando relações de poder em franco avanço capitalista global, face ao investimento proposto por Simondon, de reconhecimento do mundo das máquinas, de seu potencial de indeterminação e acoplamento com o humano, independentemente da cultura. Apoiados em um acervo conceitual disponível em uma obra cada vez mais importante nas sociedades da inteligência artificial, queremos destacar na tomada de consciência dos objetos técnicos um projeto político-pedagógico, que precede e excede as culturas, habilitando-nos a efetivamente nos envolvermos com as máquinas, coletivamente, para criação de futuros tecnológicos que ainda não foram pensados por nós.