A cosmotécnica na Amazônia: o diálogo entre Yuk Hui e Viveiros de Castro

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Em 2021, o filósofo da tecnologia e engenheiro de computação chinês Yuk Hui convidou o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro para um diálogo, publicado na revista Philosophy Today.

Hui propõe, através dos conceitos de cosmotécnica e tecnodiversidade, que a questão da técnica não é universal (como em Heidegger), mas sempre localizada, correspondendo a uma determinada cosmovisão e a uma vivência situada da tecnologia. Em “A questão da técnica na China”, ele situa situa a questão no contexto com que tem maior familiaridade. Ele encoraja, porém, que diferentes pensamentos da técnica sejam desenvolvidos a partir de outras tradições.

Em seu diálogo com Viveiros de Castro, Hui mostra interesse na possibilidade de pensar a questão cosmotécnica a partir da Amazônia, tendo em mente o trabalho do antropólogo sobre o “perspectivismo ameríndio”. O diálogo, porém, não ocorre sem ruído. Viveiros de Castro problematiza alguns pressupostos da abordagem de Hui, e em muitos pontos os pensadores parecem chegar a impasses de comunicação.

Este curso assume esse diálogo como ponto de partida e desenvolve as suas implicações, procurando inclusive interpretar o sentido dos desentendimentos que o atravessam. Ao mesmo tempo, introduz os conceitos mais relevantes dos dois autores: cosmotécnica em Hui e perspectivismo em Viveiros de Castro.

 

A pintura usada em nossa arte de divulgação é da artista Julia Debasse (@juliadebasseart)

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Descrição

Curso encerrado na modalidade síncrona, mas as aulas foram gravadas e ainda podem ser assistidas.

Aulas

1. A questão da técnica (Hui)

Hui formula a questão cosmotécnica a partir da “Questão da técnica” de Heidegger, argumentando que ela deve ser pensada como local, e não universal. Assumindo essa premissa, ele estuda a questão cosmotécnica a partir do pensamento chinês. Seu conceito da cosmotécnica como mediação entre a ordem humana e a cósmica é, ele mesmo, intimamente ligado à metafísica chinesa. Nesta sessão, introduziremos o conceito de cosmotécnica, que está na base da interlocução entre Hui e Viveiros de Castro e, portanto, deste curso.

Leitura sugerida:

HUI, Yuk. Cosmotécnica como cosmopolítica. In: Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu, 2020.

 

2. A interlocução entre Hui e Viveiros de Castro

Em “Por um primitivismo estratégico: Um diálogo”, Hui pergunta a Viveiros de Castro sobre a possibilidade de pensar a questão cosmotécnica a partir do perspectivismo. O antropólogo admite que, no seu trabalho, não deu especial atenção à questão da técnica. Ao mesmo tempo, problematiza a possibilidade de pensá-la como universal humano (ainda que localizado), sobretudo no contexto perspectivista. Ele menciona, por outro lado, um ponto do seu trabalho que sugeriria que a posição de objeto técnico, no perspectivismo, seria ela mesma variável em função do encontro entre perspectivas, de modo similar às posições de humano, animal e espírito. Leremos esse diálogo a fim de desdobrar, através de outros textos dos autores, algumas das linhas que ele sugere.

Leitura sugerida:

HUI, Yuk; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Por um perspectivismo estratégico: Um diálogo. (Trad. não publicada)

 

3. Os objetos técnicos no perspectivismo ameríndio

No perspectivismo ameríndio, todos os seres são gente para si, mas podem ver os outros como gente, animal ou espírito de acordo com a sua perspectiva. Há, porém, lugar para objetos técnicos nesse esquema? E, se há, qual? Na passagem mencionada por Viveiros de Castro, certas entidades podem aparecer para outras como artefatos: o sangue da caça aparece para a onça como cerveja, etc. Estudaremos essa passagem em seu contexto para investigar o conceito de técnica e de objeto técnico no perspectivismo segundo Viveiros de Castro.

Leitura sugerida:

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Cap. 7, Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. In: A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

 

4. A tecnologia como floresta

No texto “Imagens da natureza e da sociedade”, Viveiros de Castro remete ao fato de o bioma amazônico ter sido parcialmente produzido, na sua biodiversidade, pela atividade de povos humanos presentes na região. Esse carater “antropogênico” da floresta, longe de colocá-la como um instrumento produzido pelo intelecto e trabalho humanos, mostra que um ecossistema pode ser visto como composto por múltiplas entidades que podem aparecer como artefato e instrumento umas das outras, a depender da perspectiva. Não só, portanto, a floresta como tecnologia, mas uma visão da tecnologia como floresta, seja ela moderna ou não, humana ou não.

Leitura sugerida:

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Cap. 6, Imagens da natureza e da sociedade. In: A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

Aula inaugural

Ministrante

Zé Antonio Magalhães é professor e pesquisador em estágio de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC-Rio, doutor em Teoria do Direito pelo mesmo programa. É também pesquisador afiliado ao projeto CoHuBiCoL (Vrije Universiteit de Bruxelas e Univerisade Radboud de Nímega). Tem oferecido cursos, oficinas e palestras junto a instituições como Instituto Norberto Bobbio, ITS-Rio, APPH, Codemy, Editora Ubu, Foreign Objekt e Casa do Povo. É organizador e produtor de conteúdo no canal Transe.

Bolsas

O IEP oferece bolsas para alunos cotistas de instituições públicas e pessoas LGBTQI + em situação de vulnerabilidade social. Para solicitar uma bolsa, envie e-mail para estudosdopresente@gmail.com justificando o seu enquadramento em um destes grupos.