Saussure e o nascimento do estruturalismo
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Ferdinand de Saussure é certamente um dos grandes pensadores do nosso tempo e seu pensamento causou uma grande repercussão na história das ciências humanas e, por conseguinte, na tradição filosófica. Segundo o filósofo francês Patrice Maniglier (2006), o pensamento de Saussure leva adiante uma intuição que surge com o movimento comparatista e realiza a mais radical inversão do platonismo: lá onde a tradição busca a unidade e o invariante como única forma de um “pensamento rigoroso” e comprometido com a “Verdade”, Saussure nos faz perceber que a partir da variação podemos fundar uma ciência e um objeto digno de estudo, sendo qualquer tipo de identidade ou de invariante resultado de um “primeiro” momento de variação. Lá onde a tradição buscava a unidade, Saussure introduz, no seio das ciências humanas, a (o)positividade do conceito de diferença e com ele a primazia daquilo que varia. Desta forma, assumimos que no pensamento do linguísta genbrino não há apenas uma reflexão sobre a linguagem, uma linguística geral, mas um projeto onto e epistemológico, além de uma intuição original que inaugura um movimento que repercute até os nossos dias, a saber, o estruturalismo.
Em tempos em que vemos a falta de compreensão pública da diferença entre os métodos das ciências ditas “duras” e das práticas das ciências “humanas”, acompanhada de acusações de pseudociência sendo lançadas sem o menor rigor e pensamento crítico, um retorno às fundações do estruturalismo pode nos ajudar a caminhar em solos menos dogmáticos e conservadores.
O curso será dividido em quatro aulas, (1) Nas primeiras duas aulas apresentarei os conceitos centrais da obra de Saussure e que fundam o estruturalismo, tentando fugir da recepção vulgar que é feita deste pensador devido à leitura centrada apenas no Curso de Linguística Geral (CLG), pois, como sabemos, o linguísta não é o autor deste livro e para entendermos seu pensamento, não é suficiente fixarmos a atenção apenas no CLG – obra escrita e editada por Charles Bally e Albert Sechehaye –, que por ser uma compilação das anotações de alguns alunos dos cursos lecionados por Saussure em Genebra entre 1907 e 1911, apresenta diversas contradições. Para compreendermos o trabalho de reconstrução que está envolvido nos estudos da obra de Saussure, precisamos ter acesso às edições críticas desta obra, como a de Túllio De Mauro (Cf. Saussure, 1972), que articula a chamada “vulgata” dos ensinamentos de Saussure, ou seja, o próprio CLG, com as fontes manuscritas, e também com os textos que foram recentemente descobertos e publicados apenas em 2002, os Écrits de linguistique générale, obra que reúne textos do próprio Saussure sobre a sua teoria linguística. (2) Nas duas aulas finais confrontarei a leitura apresentada do pensamento de Saussure com algumas recepções deste pensamento no meio filosófico francês em meados do século passado, marcadamente as leituras de Paul Ricoeur e Jacques Derrida. A ideia inicial deste segundo momento é apresentar as interpretações opostas do pensamento de Saussure que fazem Ricoeur e Derrida e como essa diferença repercute uma oposição entre fenomenologia e desconstrução, bem como duas posições distintas sobre o inconsciente estrutural.
Descrição
Curso encerrado na modalidade síncrona, mas as aulas foram gravadas e ainda podem ser assistidas.
Aulas
Aula 1 – A tradição que antecede Saussure
Aula 2 – Saussure e o conceito de diferença
Aula 3 – A recepção de Ricoeur do estruturalismo: linguística e hermenêutica
Aula 4 – Jacques Derrida: semiologia e gramatologia
Aula inaugural
Ministrante
Carlos Coelho é psicanalista e filósofo. Membro do EBEP-RJ, militante antiespecista, professor e orientador no Programa de Pós-graduação em Filosofia da UERJ, doutor em Ética e Filosofia Política pela PUC-Rio com estágio doutoral na Universidade de Paris X, pós-doutor pela UERJ, mestre e licenciado em Filosofia pela UFRJ. Sua pesquisa e sua luta são inseparáveis: construir novas formas de pensar o comum para além de princípios antrópicos e dos mecanismos coloniais construídos pelo “Ocidente” através de uma bruxaria conceitual e descolonial.
Bolsas
O IEP oferece bolsas para alunos cotistas de instituições públicas e pessoas LGBTQI + em situação de vulnerabilidade social. Para solicitar uma bolsa, envie um e-mail para estudosdopresente@gmail.com justificando o seu enquadramento em um destes grupos.