Ontofagia, um materialismo mágico

R$150.00

Curso encerrado na modalidade síncrona, mas as aulas foram gravadas e ainda podem ser assistidas.

 

Categoria:

Descrição

O curso visa apresentar e aprofundar as principais ideias e conceitos do livro “Ontofagia, um materialismo mágico” (Apeku, 2020) e será ministrado pelo próprio autor. O livro parte da desconstrução, do estruturalismo e do ecofeminismo, colocando-os a serviço de um pensamento militante orientado aos existentes extra-humanos. Ontofagia é um conceito que surge de uma crítica à narrativa da excepcionalidade humana diante dos existentes extra-humanos, a partir de uma comunicação ruidosa entre Coelho, Oswald de Andrade, Jean-Luc Nancy, certos animais e uma pedra que o autor encontrou certa vez. Lá onde Heidegger pensou Ser-com como uma estrutura do Dasein e que os animais seriam “pobres de mundo”, Nancy tentou estender o ser-com aos outros existentes extra-humanos. O livro estende à comunidade dos extra-humanos algo a mais: demonstra que eles também possuem bocas, dentes, estômagos e intestinos plurais. Na ontofagia, “Ser = ser-com; ser-com = comer; comer = ser-comido”. Ser é ser comido, mas também comer. E tudo nos come: uma pedra, um fascista e o pedaço de bife que você jantou ontem de noite e te causou indigestão. A antropofagia de Oswald, abrindo mão do anthropos, do humano, estende-se a todo ente e encontra o materialismo mágico, que conecta a magia da bruxa Starhawk e dos povos originários, com uma crítica à essencialização e ao idealismo produzida pelo pensador marxista Louis Althusser e seu “materialismo do encontro”.

Aulas

Aula 1 (16/01): Desconstrução e devoração: Derrida com Oswald de Andrade.

Aula 2 (23/01): Bruxaria, ciborgues e animais: Starhawks com Federici.

Aula 3 (30/01): A diferença hiperestrutural: Saussure com o real

Aula 4 (06/02): Materialismo mágico-aleatório e comunismo cosmológico: Althusser com Nancy.

Aula 5 (20/02): Natureza, técnica, animalidade e COVID-19: Nancy com Haraway.

Aula inaugural

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Ministrante

C. C. Coelho é psicanalista e filósofo. Membro do EBEP-RJ, militante antiespecista, professor e orientador no Programa de Pós-graduação em Filosofia da UERJ, doutor em Ética e Filosofia Política pela PUC-Rio com estágio doutoral na Universidade de Paris X, pós-doutor pela UERJ, mestre e licenciado em Filosofia pela UFRJ. Sua pesquisa e sua luta são inseparáveis: construir novas formas de pensar o comum para além de princípios antrópicos e dos mecanismos coloniais construídos pelo “Ocidente” através de uma bruxaria conceitual e descolonial.

Sinopse do livro

O livro desenvolve uma série de conceitos e promove debates com a tradição filosófica, particularmente com a desconstrução, com o estruturalismo e com o ecofeminismo, colocando-a a serviço de um pensamento militante orientado aos existentes extra-humanos. Ontofagia é um conceito que parte de uma crítica à Heidegger, a partir de uma comunicação ruidosa entre Coelho, Oswald de Andrade, Jean-Luc Nancy, certos animais e uma pedra que o autor encontrou certa vez.

Lá onde Heidegger pensou Ser-com como uma estrutura do Dasein e que os animais seriam pobres de mundo, Nancy tentou estender o ser-com aos outros existentes extra-humanos. O livro estende à comunidade extra-humana algo a mais: as mostra com bocas, dentes, estômagos e intestinos plurais. Na ontofagia, “Ser = ser com; ser-com = comer; comer = ser-comido”. Ser é ser comido, mas também comer. E tudo nos come: uma pedra, um fascista e o pedaço de bife que você jantou ontem de noite e te causou indigestão. A antropofagia de Oswald, abrindo mão do anthropos, do humano, estende-se a todo ente.

Ontofagia vem mostrar como podemos pensar uma comunidade entre os diferentes oprimidos pelo pensamento supremacista (branco e humano) partindo do combate àquilo que foi nomeado no livro como Políticas do Mesmo, isto é, um modo de produção de identidades pelos opressores, que criam conceitos como “raça”, “bruxa”, “animal”, entre outros, para produzir determinados mecanismos de violência. Racismo, sexismo, cissexismo, especismo, cada um deles possui uma marca singular e é diferente entre si, mas o que há de comum e possibilita pensarmos em aliança são os nossos inimigos: a Políticas do Mesmo e o pensamento supremacista.

Como é afirmado no livro: “A ontofagia luta contra toda existência e discurso de ódio (das políticas do Mesmo) que produzem o seu próprio inimigo nos nomeando com seus nomes delirantes (mulher, animal, preto etc.) e nós perpetuamos sua política ao continuar a nossa luta dentro do próprio vocabulário supremacista (nos animalizando sem perceber que somos animalizados). Precisamos (re)colocar esta estrutura de pensamento no movimento de expansão e retração que o capitalismo denega, precisamos da hipérbole e da hipóbole. Inverter primeiro para afirmar a minoria animalizada. Depois, repensar a própria distinção entre o humano e o animal e recolocar toda a estrutura que organiza as nossas vidas – humanas e não-humanas. A ontofagia é um antiespecismo queer. Queremos devorar a perfomance da humanidade que produz a animalidade”.

O materialismo mágico, outro conceito criado no livro, conecta a magia da bruxa Starhawk, assim como a dos povos originários, com uma crítica a essencialização e ao idealismo produzida pelo pensador Marxista, Louis Althusser, e seu “materialismo do encontro”. Pensando a existência enquanto uma comunidade ontológica radical em que a humanidade, a linguagem e todos os discursos da excepcionalidade humana são deixados de lado para a afirmação de um comunismo cosmológico que seja aberto à diferença dos diversos modos de vida humanos e extra-humanos.

Do debate com o estruturalismo e com o conceito de diferença, a partir de uma discussão com Saussure, inspirada na leitura feita deste por Patrice Maniglier, e com o pensamento de Derrida e Nancy, surge um conceito ontológico que produz o mecanismo de funcionamento da ontofagia, a saber, a diferença hiperestrutural. “A diferença hiperestrutural não é a diferença indiferente: não se trata da relatividade da verdade, mas da verdade do relativo; não se trata de extinguir a busca pelo incondicional – e com ela o fim da filosofia e do pensamento especulativo –, mas mostrar que aquilo que há de incondicional é a ausência de condições”.

O debate da produção, no Ocidente, de conceitos como técnica e natureza nos leva a pensar a crise do capitalismo e a emergência climática, bem como a nossa relação com os animais que produz toda série de problemas, como a pandemia do COVID-19, nomeada no livro como o vírus da natureza.

O antiespecismo queer e o materialismo mágico são os caminhos do comunista cosmológico, personagem central do livro.

“Esta luta está ligada a todas as outras lutas multidimensionais de nosso tempo: luta contra o racismo, contra a transfobia (cissexismo), contra a homofobia (heterosexismo), contra o machismo, contra o racismo ambiental, contra o capacitismo, contra o patriarcado, contra o falocentrismo, contra a supremacia branca e contra toda forma de feitiço que quer anular a sua perspectiva em nome de se colocar como uma perspectiva das perspectivas etc. É preciso afirmar a diferença: no seu aspeto pluralmente singular, singularmente plural. Devemos afirmar a Lei do ontófago: só me interessa o que não me pertence, o que é diferente de mim. E não a Lei do homem vestido: só me interessa aquilo que me pertence, aquilo que é idêntico a mim, só me interessa o desinteresse do Um”.

Resenhas do livro

“O que é materialismo nesse materialismo mágico? O grau zero dessa (em-)comunidade mágica é a matéria. As coisas são-em comum, antes de mais nada, como coisas materiais que compartilham um mundo em que elas se encontram, se tocam e se determinam mutuamente. A diferença estrutural de Saussure faz se carne e se torna ‘hiperestrutural’. Que fique claro, o toque e o encontro não são necessariamente plácidos ou naturalmente harmoniosos. Há também o ‘choque-intrusão’ e o devorar –– um canibalismo que não se diz mais antropo-fagia porque o humano é apenas uma entre várias coisas que (se) tocam, encontram e comem. Mas tampouco o devorar ou ser devorado é necessariamente mau. O materialismo do encontro de Althusser encontra Oswald de Andrade, mas também a absoluta contemporaneidade da ‘magia’ animista ameríndia: a abertura às agências não-humanas. ‘Via de mão dupla: afetar e ser afetado, comer e ser comido.’ Onto-fagia generalizada: you are what you eat, and what eats you.”

Rodrigo Nunes, professor doutor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio

 


“É mesmo à mesa de Oswald de Andrade e de Jean-Luc Nancy que o Carlos teria de se sentar, como o faz. Pouco se falou na filosofia, no entanto, dessa outra forma de comensalidade que dispensa talheres. Há os que vão ler isso como um delírio poético, e agradeço profundamente ao Carlos por nos liberar dessa chantagem a partir do que ele chama, em uma fórmula límpida, de materialismo mágico. […] a generosidade da ontofagia consiste nessa aliança das diferentes práticas digestivas e dos tempos da mastigação. Ou seja,

a generosidade da amizade consiste em esperar o outro acabar de mastigar. O livro do Carlos/ Coelho é um livro de receitas sem medidas precisas. HIPÓTESE: o único livro possível para a filosofia no momento, no momento do fim do mundo que dura, pelo menos quinhentos anos, é um manual de ética escrito por desvairados. Ei-lo aqui, ou ao menos anuncia-se sua chegada com um aperitivo. Os pragmatistas se riem disso. Os metafísicos se riem disso, ou seja,

eles não sabem que serão os próximos a serem servidos com uma maçã na boca e lambuzados de manteiga.

Comme il faut.”

Fabiano Lemos, professor doutor do Departamento de Filosofia da UERJ

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