Filosofia Quilombola e Desalienação Técnica: Antonio Bispo encontra Gilbert Simondon
R$150.00
Curso encerrado na modalidade síncrona, mas as aulas foram gravadas e ainda podem ser assistidas.
Descrição
Quando fala sobre sua produção intelectual, Nego Bispo se situa na linha de frente da guerra das denominações. Ativista de dentro e de fora da academia, esse filósofo da ação – não da política -, interessa-se pelos modos de viver partindo de uma crítica aguda sobre a epistemologia voltada para separação, para o deslocamento, desastre. Convertendo ecologia em biointeração, bloqueando o desenvolvimento para abraçar o envolvimento, o saber empírico deve ser orgânico. Em sua obra, descentra o humano em benefício do globo, da circularidade, do um é mais que um, em nome da relatoria da trajetória, não da teoria. Enxerga na sintetização fabril dos peixes, das bananas, uma forma de racismo, e denuncia o colonialismo de submissão e as promessas das eleições democráticas como formas a serem combatidas, aliando-se ao contra-colonialismo. Nego Bispo coloca todos os seres existentes em comunicação e sabe que a relação de cada povo com a tecnologia precisa ganhar uma autoria coletiva distinta da que chega de barco, ou pela internet. O filósofo afirma que a favela precisa responder e se especializar na pirataria de tudo, partindo da tecnologia, e preocupa-se com as gerações futuras. O presente curso pretende uma contribuição nesse sentido, e propõe uma abordagem político-pedagógica ao tema da alienação técnica, operando com um conjunto de conceitos para tentar lançar luz sobre uma problemática transfronteiriça e orgânica. Temos como desafio colocar todos os corpos, a terra, os ventos, as plantas em sintonia com máquinas abertas, antes mecânicas, agora cibernéticas. “Se o conhecimento e a verdade por si só fossem realmente capazes de libertar, já faz tempo que, tendo-se emancipado da ignorância e do preconceito, do medo e da superstição, a humanidade teria encontrado a chave da felicidade e da paz – uma era de entendimento universal”, diz Achille Mbembe. A ideia é refletirmos sobre a era do entendimento diversal, em diálogos, trabalhando 2 conceitos por encontro: um advindo da obra de Antonio Bispo; outro trazido dos escritos do filósofo da técnica Gilbert Simondon. O contraste aposta na complementaridade, em seu potencial de acoplamento construtivo, em que o rendimento metafísico da reaproximação com a natureza, nossa magia primitiva, pede para encontrar o potencial técnico do pré-individual, como uma versão original ilimitada, um apeiron. Para além do interesse filosófico, o conjunto das aulas pretende arregimentar esforços colaborativos, dispostos a também pensarmos em ações combinadas para subverter a monocultura do consumo das caixas-pretas, sobrepondo uma cultura e experiência tecnoestética ao temor dos algoritmos. Queremos uma retomada do contato direto com a matéria, com o espectro, com os objetos técnicos, voltando-nos finalmente à proposição de mecanismos de participação em uma possível governabilidade digital. Encontros para semear intuições, habilidades e infraestruturas próprias, públicas, autônomas, para que o ambiente virtual e a arte local possam existir em confluência, abrindo espaço para produção soberana de diferentes modos de viver, insubmissos, circulares, metaestáveis.
Aulas
Aula 1 (17/01): Confluência e Axiontologia
Aula 2 (24/01): Biointeração e Cultura Técnica
Aula 3 (31/01): Compartilhamento e Sensibilidade Tecnoestética
Aula 4 (07/02): Cosmofobia e Algoritmos Mágicos
Aula inaugural
Ministrante
Thiago Novaes é doutor em Antropologia Social (UnB), tendo realizado estágios de pós-doutoramento na Universidade Federal Fluminense, em 2018, e na Universidade College London, na Inglaterra, em 2019. Colabora na organização de eventos acadêmicos sobre Simondon desde 2012, e integra atualmente o Grupo de estudos Gilbert Simondon (GrEGS -Unicamp) e a Red Latinoamericana de Estudios Simondonianos – Reles. Responsável pelo portal gilbertsimondon.org e pelo site reles.gilbertsimondon.org, é autor de “Os Filhos da Técnica: a reprodução assistida e o futuro do humano informacional (Appris, 2017) e principal tradutor e organizador da coletânea Máquina Aberta, dedicada ao pensamento do filósofo (Ed. Dialética, 2022).
Bolsas
Temos bolsas para alunos cotistas e pessoas trans. Para solicitar uma bolsa, enviar e-mail para estudosdopresente@gmail.com falando, brevemente, sobre o seu interesse no curso e pertencimento aos grupos mencionados.